segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Valha-nos Sto Onofre? (graças a Deus que sou ateu)

Depois de um dia assim, pergunto-me se amanhã é dia de comemorar alguma coisa...mas depois, lemos notícias como esta e percebemos que a questão não é essa.

Felizmente ainda há imprescindíveis em toda a parte.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

5 de Outubro

Dia Mundial do Professor e Aniversário da Implantação da República em Portugal

Faz hoje 3 anos que se realizou a primeira enorme manifestação de professores (20 mil!).
Foi a uma quinta feira. No dia seguinte entrei às 8.30 e fartei-me de maldizer quem dizia: "Manifestações à sexta? Fim de semana comprido é o que é!!". Tinha feito 8 horas de viagens, saído de Faro às 8.00 da manhã e regressado depois da meia noite. Só "acordei" lá para o meio da manhã (entretanto já tinha dado 2 aulas...). Portugal não é só Lisboa... .

A partir desse dia, a história é conhecida: mais duas manifestações históricas, apareceram inúmeros movimentos e associações de professores, utilizou-se a net como nunca se tinha utilizado antes em Portugal. Criou-se um movimento de Professores raro em qualquer parte do Globo.

Em termos legislativos nada mudou (até piorou) mas, e em termos políticos? Estão as coisas diferentes ou glosando Shakespeare "Muito Barulho Por (para) Nada"?

Ao mesmo tempo é o aniversário da República em Portugal. Sendo um dos regimes mais democráticos e modernos jamais inventados, só se desenvolve na sua plenitude com cidadão atentos, críticos, activos e participativos.

Estaremos nós à altura das responsabilidades?

domingo, 27 de setembro de 2009

A exigência na educação como condição de possibilidade da mobilidade social


É a Escola exigente que inclui e que promove a ascensão social. Largadas numa Escola "fácil", com docentes desautorizados e sem sombra de prestígio social, às crianças que não têm mais nenhuma alternativa, nunca lhes serão facultados os meios para irem suprindo as insuficiências de que padecem logo à partida. As suas desvantagens de começo manter-se-ão, porque as crianças mais favorecidas (em muito menor número) poderão sempre ir colmatando as falhas da Escola pública por outros meios e noutras fontes. São precisamente as crianças que mais necessitam da Escola, aquelas que são, praticamente, lá deixadas à sua sorte.
Nos últimos quatro anos, acentuou-se brutalmente a tendência da Escola se ir transformando num depósito indiferenciado de crianças (e de adolescentes), que se querem mantidas no seu interior, em muitos, em demasiados casos, vegetando na irrelevância social donde a Escola não as consegue libertar.
À força de se querer fazer da Escola aquilo que ela não é nem pode ser, a Escola acaba por não ser nada: nem o que devia, nem o que, erradamente, lhe exigem que seja.

[Também aqui.]

A visão "socrática" da Escola


Há qualquer coisa de tremendamente errado quando um primeiro-ministro se orgulha de deixar uma Escola com, citando-o, 'menos professores, mais alunos e maior sucesso'. (Como aqui e aqui.) Só alguém que não pensa nada sobre a Escola e não sabe do que fala pode dizer uma coisa daquelas. Aquela resplandecente trindade nunca pode ser o fito de uma política escolar. Para além de ser apenas um estribilho vazio que nada diz (como Sócrates gosta), é uma pretensa descrição que passa completamente ao largo do que deve ser a Escola. Aquele entusiasmo despropositado do primeiro-ministro corresponde ao sonho de um burocrata louco.

É arrepiante pensar que alguém que parece não ter uma única ideia sobre a Escola 'se tenha empenhado pessoalmente' nas medidas do ministério da Educação e que algumas destas 'lhe sejam muito caras', como disse a ministra ao Diário de Notícias do dia 26 de Julho. [Afirmações publicadas apenas na edição em papel.] Este acompanhamento tão próximo ajuda a explicar tanto disparate e tanta crispação inútil que foram perpetrados na Escola ao longo destes quatro anos.

'Menos professores'. É verdade que a Escola não existe para empregar professores ou candidatos a tal. Ela existe para os alunos - não alunos inertes e passivos como Sócrates/Lurdes Rodrigues os concebem, mas alunos com autonomia responsabilizante na sua própria emancipação. (E, para isso, a Escola deveria ser um meio fundamental - este governo, precisamente, degradou essa "função" da Escola.) No entanto, por si só, "ter menos (ou "ter mais") professores" nunca pode ser um objectivo. Primeiro, há que pensar que papel deve ser o do professor na Escola (e, pressuposto a isso, saber-se o que se pretende que a Escola seja). Só depois se determina, de acordo com as necessidades já estabelecidas, se há docentes "a mais" ou "a menos". (E mesmo esta formulação resulta ridícula.) Dizer-se que há professores "a mais" ou "a menos" é o mesmo que não dizer nada. É que não é um dado natural haver "a mais" ou "a menos" - essa apreciação quantitativa depende da fixação das necessidades de recursos humanos do sistema e elas são fixadas politicamente. Há sempre uma opção política prévia a essas considerações. Estamos perante posições políticas e não dados "técnicos" incontornáveis.

135 000 docentes é, à primeira vista, um número impressionante. Mas, se pensarmos que estão divididos por doze anos de escolaridade, por dezenas de disciplinas e por um milhão e quinhentos mil alunos (número daqui), isto é, se não olharmos para '135 000' em abstracto, como o primeiro-ministro faz, as coisas não parecem já tão simples. São "muitos" ou são "poucos"?

Teoricamente, podemos sempre conceber ("socraticamente") um sistema escolar público ainda com menos docentes (porque não 100 000, 80 000?), ainda com mais alunos e ainda com mais sucesso. Por exemplo, reduzindo drasticamente o número de disciplinas (aplicando a falácia das "competências horizontais", com um mesmo docente leccionando disciplinas diversas consideradas afins pelos "pensadores" de serviço) ou determinando o aumento do número mínimo de alunos por turma. Para o patriótico desiderato do "sucesso", bastaria reforçar toda uma bateria de processos burocráticos e mecanismos avaliativos que induzem, que encorajam artificialmente o "sucesso" nas classificações. É possível? Claro que sim. Uma autêntica "utopia prometida" que poria Sócrates/Lurdes Rodrigues/Valter Lemos com os olhos em alvo. Mas... estaria salvaguardada a qualidade dessa Escola?... E ainda seria verdadeiramente uma Escola?... Muita gente se parece ter esquecido (o governo e também os seus aliados objectivos à direita, incapazes de verem objectos à distância) que a preocupação fundamental, aquilo que nunca se deve perder de vista numa política de ensino da república é a qualidade da Escola - isso, que não exclui de todo a boa gestão dos recursos (que são escassos), tem de estar assegurado.

A tendência nociva já vem de trás, mas graças a estes quatro anos de governação Sócrates (uma governação que não pensa nem ), a Escola portuguesa tornou-se inóspita para aqueles que poderiam ser bons alunos. Esta Escola "socrática" não os deixa. Sufoca-os desde os primeiros anos e vai fazendo-os vegetar na mediocridade ao longo do percurso. Todos os sinais são dados para que os rapazes e as raparigas, desde o início, não vejam o esforço como meritório. E não têm outra Escola que os reconheça. Gradualmente, ir-se-ão submetendo à rasoira. No fim, lá estará o "sucesso" "socrático" garantido.

[Também aqui.]

domingo, 13 de setembro de 2009

You 're coming along!...

(1983, em Munique)



School

I can see you in the morning when you go to school
Don't forget your books, you know you've got to learn the golden rule,
Teacher tells you stop your play and get on with your work
And be like Johnnie - too-good, well don't you know he never shirks
- he's coming along!

After school is over you're playing in the park
Don't be out too late, don't let it get too dark
They tell you not to hang around and learn what life's about
And grow up just like them - won't you let it work it out
- and you're full of doubt

Don't do this and don't do that
What are they trying to do?
- make a good boy of you
Do they know where it's at?
Don't criticise, they're old and wise
Do as they tell you to
Don't want the devil to
Come and put out your eyes

Maybe I'm mistaken expecting you to fight
Or maybe I'm just crazy, I don't know wrong from right
But while I am still living, I've just got this to say
It's always up to you if you want to be that
Want to see that
Want to see that way
- you're coming along!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Remar contra a maré

Remar contra a maré é cansativo por natureza. Remar contra a maré sozinho cansa ainda mais. E é inútil.

Pescador Desconocido no Chile

Fotografia de Juan Soriano, encontrada aqui.

Pais criticam política educativa do governo

O jornal i falou com 45 pais e quase todos consideram desastrosa a prestação do governo na área da educação.

Dois exemplos:

«"O estatuto do aluno é um desastre e uma ofensa aos alunos cumpridores. Valores e atitudes como o trabalho, o mérito, a assiduidade, o comportamento, a aprendizagem, o conhecimento, foram postos em causa e de repente considerados antiquados e conservadores", diz Manuel Marques, economista nas Caldas da Rainha, pai de um aluno matriculado no 8º ano. "O estatuto do aluno privilegia o facilitismo e desresponsabiliza os alunos", acrescenta Maria José Viseu, presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE).»

«"Coube à professora da minha filha avaliar os outros professores da escola. Ela faltou três tardes inteiras. Se todos os professores tivessem de ser avaliados nos moldes em que se pretendia, teria de faltar 40 horas. Não é assim que uma avaliação deve ser feita", critica Paula Henriques.»

Como já foi dito em post anterior, Maria de Lurdes Rodrigues foi a ministra da barbárie.

sábado, 5 de setembro de 2009

Mentir com os números: 9 alunos para 1 professor

A quantificação costuma significar rigor e precisão. Por isso é que a Matemática (com esse nome ou com outro: Cálculo, Estatística, etc.) faz parte do plano de estudos da generalidade dos cursos universitários, mesmo na área das Ciências Sociais.

Claro que isso não impede que se digam grandes mentiras com os números. Alguns políticos fizeram disso uma verdadeira arte, dando razão a Andrew Lang: "Ele usa a estatística como os bêbados usam os postes dos candeeiros: mais para apoio do que para iluminação". bebâdo e estatística

Um exemplo de como se pode mentir com os números é a célebre média nacional de 9 alunos para 1 professor, que os responsáveis do Ministério da Educação tanto gostam de repetir – para defender que não é preciso diminuir o número de alunos por turma. Infelizmente, esquecem sempre de referir que ao fazer essas contas incluíram os professores que não têm nenhum aluno (como os Presidentes do CE e os responsáveis pelas bibliotecas escolares) e os professores que só têm uma turma ou duas. Essa média não significa portanto que a maior parte das turmas não sejam demasiado grandes e não haja muitos professores com cento e tal de alunos.

Por exemplo: este ano terei 110 alunos e no ano passado tive 119. Mas comparado com o professor Luís Palma de Jesus sou um privilegiado. Este, no blogue Geografismos, conta que no ano lectivo de 2007/2008 teve 277 alunos. 277!

(Imagem e citação tiradas daqui.)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A arte do eufemismo

Quando Sócrates, no comício (aquilo não foi de todo uma entrevista) que deu na RTP ontem à noite, admitiu que "talvez não tivesse havido suficiente delicadeza no tratamento com os professores" proferiu um enorme eufemismo.

Mas a ministra da Educação conseguiu ir mais longe na arte do eufemismo ao descrever o que se passou nos últimos quatro anos com a expressão “problemas de comunicação entre Governo e professores”.

E, segundo se pode ler aqui, claro que “não viu uma crítica ao seu trabalho nas declarações do primeiro-ministro”. Suponho que o facto de últimos tempos se sucederem as declarações de personalidades do PS com críticas à sua acção, lamentando inclusivamente que Sócrates não a tivesse afastado, não deve passar de um “problema de comunicação”.

Não há dúvida que a falta de franqueza da ministra ombreia com a sua falta de habilidade política.

A relatividade pedagógica do tempo

relatividade temporal na escola

Acabaram as férias. Seguem-se duas semanas de reuniões, planificações e projectos disto e daquilo. Depois virá o melhor da vida de professor (ok, exceptuando as férias): as aulas. Todavia, suspeito que a maioria dos novos alunos, que vão entrar sala dentro a partir do dia 14 de Setembro, também perfilha a opinião de que o tempo é relativo.

Cartoon de Randy Glasbergen, retirado do blogue Today’s Cartoon.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Maria De Lurdes Rodrigues: a ministra da barbárie

Vale a pena ler “O legado de Maria de Lurdes Rodrigues”, um balanço impiedoso da acção da ministra da Educação, da autoria de José Luiz Sarmento, no blogue As Minhas Leituras.

Eis um excerto, para confirmar que vale a pena:

“Na sua complacência criminosa com o gigantismo burocrático, com o delírio pedagógico e com a falta de civismo que grassa nas escolas, Maria De Lurdes Rodrigues não se distinguiu substancialmente de muitos dos seus antecessores. A diferença decisiva está em que estes, embora criados no caldo de cultura das ESE's e do sociologismo, tinham ligações culturais e conceptuais ao exterior deste mundo, ligações estas que lhes permitiam reconhecer pelo menos a existência de algo para além dele. Maria de Lurdes Rodrigues, pelo contrário, só existe neste pequeno mundo e não acredita que haja alguma coisa fora dele. E, não conhecendo outro mundo, também não conhece o seu. Nunca afrontaria a Nomenklatura tecnoburocrática do seu ministério porque nem sequer se dá conta da sua existência - tal como um peixe não se dá conta da água.

Por isso foi capaz de assinar um Estatuto da Carreira Docente em que as palavras "ensino" e "ensinar" não aparecem uma única vez (...).

Se a civilização é, como se diz, uma corrida entre a escola e a barbárie, Maria de Lurdes Rodrigues será a ministra que pôs peias e freios à escola. Não foi ministra da educação, foi ministra da barbárie.”

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O facilitismo educativo promove a desigualdade e a exclusão social

Vale a pena ler a opinião de João Cardoso Rosas (Professor de Teoria Política) no jornal i. Tem um título que começa a ser politicamente incorrecto: “Mais valia reprovar”.

Um excerto para abrir o apetite:

“Na situação a que as políticas da escola inclusiva conduziram o sistema educativo, ele deixou de ser um trampolim para os desfavorecidos pela lotaria social. Pelo contrário, a inclusividade da escola levou as classes altas e médias a trocar o sistema público pelo privado ao nível da educação pré-universitária. O resultado final deste processo é um típico efeito perverso: a transformação da escola pública, que pretendia promover a inclusão, num factor de exclusão social.”

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O homem que não mordeu o cão

No jornalismo existe um velho adágio que diz: “Um cão morder um homem não é notícia. Notícia é quando um homem morde um cão.”

Nessa óptica, isto que se lê no Público não é uma notícia: “A ministra da Educação rejeitou hoje que tenha existido facilitismo para melhorar as taxas de abandono e retenção escolar”.

Notícia seria a ministra reconhecer que promoveu o facilitismo - no Ensino Básico e no Ensino Secundário, nomeadamente (mas não só) nos exames nacionais – e que essa é uma das razões pelas quais é uma péssima ministra da Educação. (A propósito do facilitismo ver aqui e aqui.)

Uma das razões, mas obviamente não a única. É preciso não esquecer o modo desastroso como conduziu o processo da avaliação dos professores.

Infelizmente, o que ela disse é apenas mais do mesmo – a continuação da mentira que anda a dizer desde que é ministra.

Com a verdade nos tentas enganar, Governo

Segundo o jornal Público, “a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmou hoje que os resultados escolares do ano lectivo 2008/2009 revelam uma 'redução para metade do abandono e insucesso escolar' nos últimos anos.”

Esses números certamente que existem, escritos em papéis. Não é aí que reside a mentira. A mentira reside nos mecanismos que permitem chegar a esses números.

"Atribuo a medidas como os planos de recuperação, os cursos de educação e formação, generalização de currículos alternativos, o maior tempo de trabalho dos professores com os alunos, mas também a estratégias que foram desenvolvidas pelas escolas de ir buscar os alunos ao abandono", afirmou a ministra.

O que se passa é que esses planos de recuperação, cursos profissionalizantes e currículos alternativos são pouco mais do que formas de institucionalizar o facilitismo. Os alunos que deles “beneficiam” não aprendem realmente mais. Acontece apenas que os programas e os critérios de avaliação, devido a orientações emanadas do Ministérios de Educação, permitem que os alunos passem sem aprender. Dizer que se trata de passagens administrativas não é exagero.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Usar o computador é diferente de aprender

Segundo o jornal Público, “Todas as escolas estão ligadas à Internet a pelo menos 64 megabits por segundo e o rácio de alunos por computador passou de 18 para 5,6, entre 2005 e 2009, disse a ministra da Educação.”

Pelo que tenho verificado nas aulas esse facto não se traduz – para a maioria dos alunos - num acréscimo de curiosidade e interesse pelos conhecimentos disponibilizados, na Internet e nas aulas, ao nível da Matemática, da Física e Química, da Biologia, da Filosofia...

A utilização dos computadores, feita pela maioria dos alunos, restringe-se a actividades lúdicas que nada têm a ver com a procura do conhecimento ou a sua aplicação, a saber, jogos, redes sociais, etc.

E que tal se o Ministério da Educação fizesse um inquérito para, a partir de dados rigorosos, poder avaliar o impacto desta medida na aprendizagem, uma vez que a considerou prioritária?

O que seria realmente um motivo de orgulho é se existissem 5 ou 6 livros lidos por aluno.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Watergate à portuguesa ou estarão todos a fazer campanha a favor da abstenção?

conversa fiada

«A Presidência da República recusou ontem tecer qualquer comentário público às suspeitas avançadas por um dos seus membros da Casa Civil, mas também não as desmentiu. As suspeitas apontam para o facto de o Governo, ou o PS, estarem a vigiar os seus serviços e assessores. Já o primeiro-ministro, José Sócrates, começou por recusar falar sobre o assunto, mas acabou por alegar não poder "perder tempo a comentar disparates de Verão".» Ler mais aqui e aqui.

Ontem ouvi alguém, sentado na mesa ao lado de uma esplanada, dizer o seguinte acerca deste caso: “Estes gajos... É só Blá! Blá! Blá!” E a conversa derivou para o futebol.

Não sei se alguém foi ou não vigiado. Mas não faz sentido alguém da Presidência dizer que isso aconteceu e depois não dizer mais nada e não tirar consequências. E faz ainda menos sentido, face à gravidade das suspeitas, o Governo e o PS limitarem-se a emitir umas graçolas sobre o assunto.

Não faz sentido, porque, além de não permitir apurar a verdade, contribui para descredibilizar ainda mais os políticos. Quem perde é a democracia e, por isso, o país.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sociedade do conhecimento ou república das bananas?

“Presidência da República teme estar a ser vigiada”. Palavras para quê? É Portugal, no Ano da Graça de 2009. A poucas semanas das eleições - vale a pena acrescentar.

Leia a notícia toda aqui. Os pormenores não são exaltantes. Para falar verdade, são sórdidos.

É impressão minha ou as novas tecnologias, para não falar da democracia e das eleições, podiam servir para fazer coisas muito melhores?

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Velhas oportunidades

“José Sócrates acabou o curso a um domingo”, recorda o jornal i – que classifica o feito como um dos “Escândalos da Democracia”.

Mesmo que não se consiga provar que houve ilegalidades no processo, é óbvio que houve pelo menos algumas facilidades pouco éticas.

Haverá alguma relação entre esse caso e o modo como este governo tratou os professores? Claro que não! Em política o “faz o que eu digo e finge que não vês o que eu faço” é um princípio sagrado.

domingo, 16 de agosto de 2009

Há políticos que dão explicações parecidas

cartoon33stressgestao

A arte moderna e a política: um casamento de onde só podem vir maus ventos.

Eu sei que o cartoon fala de gestão, mas acabei de folhear o jornal e li várias declarações políticas desse calibre. E o pior é que não é por causa da silly season.

Empresas públicas pouco… públicas!

Por falar em avaliação dos professores… E se estas práticas administrativas e políticas (sim, políticas) fossem avaliadas? Não chegariam certamente ao Suficiente. Gostava de acreditar que nas próximas eleições essa avaliação será feita, mas...

Vem isto a propósito desta notícia do jornal Público: “a empresa pública criada, em 2007, para desenvolver as obras de transformação das escolas secundárias portuguesas já gastou mais de 20 milhões de euros em projectos de arquitectura que foram adjudicados por convite directo, sem consulta a terceiros nem publicitação dos contratados.”

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Quem se mete com o Governo leva!

João Lobo Antunes “João Lobo Antunes não foi reconduzido pelo Governo ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida”, segundo noticiam o Jornal Público e o jornal i. O que contraria um compromisso que José Sócrates, segundo dizem esses jornais, terá assumido com o Presidente da República.

Para que se saiba, João Lobo Antunes (professor de Medicina, neurocirurgião de fama mundial, autor de diversos livros onde revela uma enorme cultura científica e humanística, bem como uma acutilante capacidade reflexiva) tem emitido opiniões criticas relativamente a alguns aspectos da governação socialista – nomeadamente acerca da política educativa. (A esse respeito veja, por exemplo, aqui.)

Como membro do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida redigiu um parecer, juntamente com Daniel Serrão, onde lançou muitas críticas a um projecto-lei socialista sobre o “testamento vital”.

Por isso, apesar da sua inegável competência, João Lobo Antunes foi vítima da intolerância e sectarismo do governo – que, como mais uma vez se comprova, não sabe lidar com pessoas livres e com espírito crítico. “Quem se mete com o PS leva”, disse uma vez Jorge Coelho. Quem duvida?

domingo, 2 de agosto de 2009

Exames nacionais - Que fazer?

Os resultados dos exames nacionais têm gerado grande controvérsia. A oposição critica o governo de usar os resultados dos exames como instrumento de propaganda, sendo, também, um sinal claro do facilitismo que impera nas escolas. Por sua vez, o ministério da educação congratula-se com a melhoria dos resultados, sendo estes um sinal da cultura de exigência que este governo conseguiu implementar nas escolas, apesar da oposição de professores e da generalidade das organizações sindicais.
Os resultados conseguidos na disciplina de matemática, quer no 12ª ano quer no 9ºano, durante a legislatura, parecem querer indicar que o governo entrou numa onda de facilitismo para poder daí retirar dividendos políticos. Convém dizer que o procedimento do ministério da educação foi tão descarado que qualquer pessoa minimamente informada percebe que há aqui uma tentativa clara de manipular a opinião pública.
Face ao exposto, o governo que venha a sair das próximas eleições se quiser devolver alguma credibilidade aos exames deverá procurar que a elaboração dos exames seja feita por entidades independentes. Assim, por exemplo, quem deveria elaborar os exames da disciplina de matemática deveria ser a sociedade portuguesa de matemática ou a associação de professores de matemática. Desta forma, poder-se-ía evitar a politização de uma área sensível e fundamental para o desenvolvimento do país.

F. Pinheiro

Outro daqueles engenheiros que… não são bem engenheiros

falso engenheiroQuino  

Cartoon de Quino.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Se as leis forem uma teia confusa os cidadãos conseguirão respeitá-las?

Os velhos gregos orgulhavam-se de obedecer a leis e não a homens e desdenhavam os persas, que tinham de obedecer à vontade caprichosa de um homem – o rei.

Mas poderá alguém valorizar tanto o império da lei se viver num país como Portugal?

Em Portugal, as leis estão sempre a mudar (sem que muitas vezes se perceba o motivo e a utilidade da mudança). Em Portugal, muitas vezes as leis que mudam são incompatíveis com as leis que não mudam. Em Portugal, o conjunto das leis constitui um labirinto confuso que atrapalha até os melhores juristas. Em Portugal, as leis são tão opacas e difíceis de interpretar que, mesmo as pessoas mais crédulas e optimistas, são levadas a pensar que os detentores do poder fazem essas leis em seu benefício e querem enganar o povo. “Eles são todos iguais”, “Eles querem é servir-se”, são duas frases muito ouvidas em Portugal acerca dos responsáveis políticos – independentemente do partido que ganhou as últimas eleições.

Em Portugal, existem situações inacreditáveis como esta: um decreto-lei contraria uma norma juridicamente superior (por culpa do governo), mas o Tribunal Constitucional (que fiscaliza o respeito pela Constituição, pela lei das leis) considera que nada tem a dizer em relação a isso, pois (de acordo com a notícia do jornal Público) a “eventual contradição entre um regulamento e uma lei é um problema de mera ilegalidade e não de constitucionalidade”.

Trata-se do cúmulo do formalismo! Se é assim, de que serve ter uma Constituição? Se as pessoas que têm a responsabilidade principal na defesa da lei e do valor da lei (ou, por outras palavras, do Estado de Direito) se perdem em subtilezas estéreis e opacas e em formalismos vazios, será de admirar que as outras pessoas (que não são especialistas) comecem a duvidar do valor dessa lei?

Como democrata, espero que isso não contribua para que um dia destes muitas pessoas achem mais seguro meter a democracia na gaveta e obedecer a um chefe qualquer em vez de à lei!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Os alunos externos são extraterrestres ou são alunos portugueses?

A notícia do jornal Público começa assim: «Uma hecatombe. Todos os exames do ensino secundário mais concorridos tiveram média negativa na segunda fase, mostram os resultados divulgados hoje.»

Mas para os lúcidos responsáveis do ME não há motivos de preocupação: «O Ministério da Educação atribui esta queda ao facto de nesta fase o "peso dos alunos externos" ser maior e por isso pesar mais "na determinação do sentido positivo ou negativo da média geral".»

Claro que faz sentido analisar a influência dos alunos externos nas classificações. Mas já faz menos sentido o Ministério desresponsabilizar-se dos resultados dos alunos externos. Será que esses alunos nunca passaram pelos bancos das escolas portuguesas? E, já agora, porque é que há tantos alunos externos?

Seja como for, esse género de análises (além das diferenças entre alunos internos e externos, também faz sentido analisar as diferenças entre a 1ª fase e a 2ª fase, entre o actual ano lectivo e os anos anteriores, entre os resultados das diversas disciplinas, etc.) incide sobre aspectos particulares e a circunstância do seu resultado ser mais positivo ou mais negativo não anula este facto: se os exames não são escandalosamente fáceis os resultados são maus.

Pois é: a expressão “os lúcidos responsáveis do ME” que utilizei algumas linhas atrás era irónica!

(Relativamente a este tema escrevi também aqui, com direito a comentários anónimos dos defensores fanáticos do governo.)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Portugal: que futuro?

Esta canção interpretada pelo Rio Grande é de 1996. Provavelmente, não dirá muito a grande parte dos jovens que frequentam hoje o ensino secundário. Transmite, entre outras ideias, uma imagem positiva da escola, do saber, do esforço e do trabalho. Valores que entretanto caíram um pouco em desuso.

Muitas pessoas em Portugal - incluindo os ideólogos do actual Ministério da Educação - defendem que a escola deve, pelo contrário, permitir aprender de forma divertida, sem grande esforço e proporcionando prazer imediato.

Sem a valorização do trabalho e um justo reconhecimento do mérito - dos alunos e dos professores - que futuro podemos esperar?

Canção composta por João Monge e interpretada pelo Rio Grande.

Querida mãe, querido pai. Então que tal?
Nós andamos do jeito que Deus quer
Entre dias que passam menos mal
Lá vem um que nos dá mais que fazer


Mas falemos de coisas bem melhores
A Laurinda faz vestidos por medida
O rapaz estuda nos computadores
Dizem que é um emprego com saída


Cá chegou direitinha a encomenda
Pelo "expresso" que parou na Piedade
Pão de trigo e linguiça pra merenda
Sempre dá para enganar a saudade


Espero que não demorem a mandar
Novidade na volta do correio
A ribeira corre bem ou vai secar?
Como estão as oliveiras de "candeio"?


Já não tenho mais assunto pra escrever
Cumprimentos ao nosso pessoal
Um abraço deste que tanto vos quer
Sou capaz de ir aí pelo Natal

Avaliação: ser bom não chega, é também preciso… Vamos discutir o que é preciso?

médico Atul Gawande ser bom não chega “Atul Gawande é médico-cirurgião (…). É professor catedrático de Cirurgia em Harvard. E, ainda, redactor e colunista. (…) Depois de ter escrito A mão que nos opera (2007), livro de divulgação, publicou, neste ano, Ser bom não chega (2009) com o mesmo teor [na editora Lua de Papel]. A propósito deste último livro, deu uma entrevista à revista Sábado”, cujo resumo se encontra no blogue De Rerum Natura, e na qual se pode ler a seguinte passagem:

“Pergunta: Interfere no trabalho de outros médicos?

Resposta: A toda a hora! Se vejo um colega a fazer um mau diagnóstico já com uma cirurgia marcada não lhe vou dizer ‘és um idiota! Olha o que estás a fazer!’, porque sei que posso ser eu o próximo idiota! O que faço é explicar-lhe que acho que deixámos passar alguma coisa e tentar resolver os problemas. (…) O problema dos erros não é dos maus médicos: o pior é que eles acontecem aos bons.”

Não poderão estas palavras aplicar-se aos professores? Na minha opinião, não só podem como devem! Creio que a análise e a discussão das palavras de Atul Gawande, bem como a sua generalização ao caso dos professores portugueses, permitiriam concluir que os professores devem ser de facto avaliados e que o modo como este governo tentou efectuar essa avaliação é muito mau e contraproducente! É como se o governo dissesse aos professores “vocês são uns idiotas” – esquecendo que os membros do governo podem ser os actuais idiotas! Ou seja: feito assim, é pior a emenda que o soneto.

Porém, e como é publicamente notório, a maioria dos professores (por razões diferentes, algumas delas certamente nobres e muito fundamentadas) revela pouca disponibilidade para essa análise e discussão. Têm aulas para preparar, testes para corrigir, livros para ler, relatórios chatos e inúteis que já deviam estar feitos ontem, software para instalar, filhos para cuidar, frustrações e tristezas para compensar, constipações para curar, etc.

O problema é que (por muito atendíveis que sejam essas razões), quando a maioria não está interessada num debate desse género, mesmo a abordagem construtiva recomendada por Atul Gawande pode ser confundida com a abordagem destrutiva do ‘és um idiota! Olha o que estás a fazer!’. Apesar de existirem outras causas, o facto de alguns professores (inclusivamente alguns que defendem a avaliação e são competentes) terem medo de ser avaliados tem certamente alguma relação com esse fenómeno.

Por isso, se as coisas continuarem assim, digam o que disserem o governo e os sindicatos (e alguns professores com voz própria, na TV, em jornais, em blogues, etc.) as coisas não mudarão na educação deste país – que precisa de cidadãos mais qualificados, ou seja, de melhor educação!

domingo, 26 de julho de 2009

Ping-pong politiqueiro

A acusa B, C (amigo de B) acusa A e nega a sua acusação, B nega a acusação - "Eu?? Claro que não!" - e também acusa A. Qual será a reacção de A?

Pois bem, A nega as negações e considera que elas comprovam a acusação!

Qual será a reacção de B e C à reacção de A? Esperam-se novas jogadas a qualquer momento. Isto promete…

Veja aqui os detalhes das primeiras jogadas e aqui os detalhes da mais recente.

A cada nova jogada deste monótono ping-pong politiqueiro (reservemos a palavra “político” para actos mais nobres) a abstenção eleitoral cresce um bocadinho.

sábado, 25 de julho de 2009

O trabalho torna o repouso agradável!

Segundo o filósofo grego Heraclito, só damos valor ao repouso devido ao trabalho (do mesmo modo, se não fossem as doenças não atribuiríamos qualquer importância à saúde).

Tenho procurado agarrar-me a essa ideia, agora que as férias estão próximas e na escola há menos trabalho, mas em que me vejo obrigado a arrumar os despojos do ano lectivo: centenas de papéis e dezenas de documentos no computador, todos eles ansiando pelo seu lugar natural num dossier na estante ou numa pasta nos “Meus Documentos”.

Essas arrumações são trabalhosas e aborrecidas, mesmo que feitas a ouvir música tão boa como as obras-primas do álbum Kind of Blue, de Miles Davis. O que vale é que, a acreditar em Heraclito, esta trabalheira dará mais sabor às férias.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Há corninhos e corninhos, há ministros demitidos e ministros por demitir

Ainda não há muito tempo atrás, o ministro da economia, Manuel Pinho demitiu-se, ou foi pressionado para se demitir, por fazer corninhos na casa da democracia. Aliás, o senhor Primeiro Ministro, José Sócrates, considerou o comportamento inaceitável, pois, ofendia a dignidade da instituição. O comportamento é reprovável, mas não passou de uma infantilidade. A comunicação social deu grande alarido ao caso e Portugal foi primeira página em alguns jornais estrangeiros.

Hoje, a notícia relativa ao relatório do Tribunal de Contas sobre prolongamento da concessão do terminal de Alcântara não causou nem uma décima parte do alarido. Neste relatório, o Tribunal de Contas considera o negócio ruinoso para o estado e considera o prolongamento da concessão inaceitável em termos éticos e questionável no plano legal. Assim, devemos referir que o prolongamento da concessão foi realizado sem concurso público. Este procedimento impediu que outras empresas apresentassem propostas que poderiam ser mais vantajosas para o estado português. Por outro lado, o contrato de concessão apresenta previsões consideradas optimistas quanto à evolução do tráfego futuro. Se estas previsões não se vierem a cumprir, então, o estado, isto é, os contribuintes serão chamados a compensar a Liscont. Face ao exposto, se o negócio for rentável a Liscont arrecada os lucros, mas se o negócio se revelar deficitário a Liscont não irá ter prejuízo, pois os contribuintes é que arcarão com o prejuízo. Mais ainda, o contrato de concessão foi de tal forma urdido que a Liscont terá sempre lucro, seja este proporcionado pelo tráfego ou pelos contribuintes. Um dado que, possivelmente, torna este negócio ainda mais tenebroso é o facto de a empresa ser gerida pelo senhor Jorge Coelho, homem que conhece como ninguém os meandros do aparelho socialista.

A questão que urge colocar é se o caso da Liscont não será suficiente para provocar a demissão do senhor ministro Mário Lino? Ou será que em Portugal apenas as piadas de mau gosto e as infantilidades provocam a demissão de ministros?

F. Pinheiro

O facilitismo na Educação é um tiro no pé!

Hoje observei uma situação na rua que, apesar da proximidade das férias e da ausência de actividades lectivas, me levou a fazer considerações semelhantes àquelas que Desidério Murcho faz no texto a seguir apresentado. A situação foi esta: um rapaz dos seus 15 anos encontrou não sei que folheto na rua e, depois de lhe dar uma vista de olhos, perguntou ao pai: “Quem é Eça de Queiroz?” O pai, vestido com a farda dos varredores municipais, respondeu: “Sei lá! Deve ser um político qualquer…”

tiro_no_pe O “facilitismo não teve o efeito que os partidários do “eduquês” dizem que teria: dar oportunidades aos estudantes culturalmente mais desfavorecidos. Em 30 anos de facilitismo educativo, os efeitos não se fizeram sentir: os cursos de maior prestígio e exigência cognitiva continuam a ser maioritariamente frequentados por “meninos finos”. Porquê? Porque o facilitismo, ao contrário do que os partidários do “eduquês” defendem (e têm toda a legitimidade para o defender, não é isso que está em causa), não favorece os meninos culturalmente carentes — pelo contrário, deixa-os ainda mais carentes. Apenas permite que não reprovem. Mas não reprovar sem saber é tão mau, ou pior, do que reprovar. O que era realmente necessário era fazer esses meninos ter aproveitamento cognitivo real, e não fingir que o têm por via do facilitismo.”

Este texto (publicado no blogue De Rerum Natura) data de 4 de Abril de 2007. A situação entretanto piorou e, é hoje mais óbvio que nunca, que o facilitismo na educação promove a desigualdade social e não a igualdade.

O facilitismo é um tiro no pé: permitir que os alunos frequentem a escola e tenham aproveitamento sem aprender realmente não beneficia esses alunos, prejudica-os. E ao país também.

O facilitismo prejudica o país porque, além de prejudicar os alunos culturalmente carenciados, destrói o valor do conhecimento e da educação.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

“BOAS PRÁTICAS”

Vídeo dos Contemporâneos sobre os exames nacionais.

O que faz um adolescente no Verão?

Imagem encontrada aqui.

Coitados! Assim já não terão excelente nem se tornarão deputados titulares!

“Durante os quatro anos e meio desta legislatura, em que se realizaram 464 reuniões plenárias, os deputados deram mais de 6600 faltas.”

(Clique aqui para ler mais.)

Se as leis que os deputados aprovaram (não digo criaram, pois a grande maioria deles não criou nada e limitou-se a votar de acordo com as ordens recebidas) acerca dos professores (Estatuto da carreira Docente e Avaliação do Desempenho) lhes fossem aplicadas, o que sucederia aos seus mandatos e às suas carreiras políticas? E, já agora, o que sucederia às suas reformas?

Pois é: há dois pesos e duas medidas!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Uma caricatura da relação professor-aluno ou, em muitos casos, a realidade?

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Não pensem que é caso único!

Escola de Darque passou um aluno com nove negativas e garante que foi a melhor solução…

“Negativa a Língua Portuguesa, a História e a Matemática. Negativa também a Geografia, a Físico-Química, a Educação Visual... Feitas as contas, José, chamemos-lhe assim, teve nove negativas em 14 "cadeiras". Tem 15 anos, está no 8.º ano do ensino básico. E a escola passou-o.”

(Notícia do jornal Público. Clique aqui para ler mais.)

Parece mentira mas é verdade. E, como qualquer professor sabe, não é caso único. Há muitos outros casos em Portugal e em todos eles o resultado é semelhante: quando acabam as "ajudas" e o facilitismo, esses alunos reprovam.

De quem é a responsabilidade?

A responsbilidade é, em primeiro lugar, do Ministério da Educação, que faz leis que permitem e até incentivam essa permissividade.

Mas a responsabilidade é também dos professores. Dos professores que ocupam cargos nos órgãos dirigentes das escolas, pois são frequentemente mais papistas que o Papa e inventam regras específicas ainda mais permissivas (e muito diferentes de escola para escola, o que põe em causa o princípio constitucional da igualdade perante a lei) que a lei geral. E também de muitos (e não todos, claro) dos outros professores, que têm medo de ser rigorosos e exigentes na avaliação.

Os professores sabem que as coisas se passam assim e que os primeiros prejudicados são os alunos que se pretende, supostamente, ajudar. Mas as outras pessoas saberão?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Os exames nacionais

Os exames nacionais poderiam ser um instrumento precioso para avaliar os professores e, acima de tudo, a qualidade do sistema educativo, contudo, durante a presente legislatura, o minsitério da educação tudo fez para os descredibilizar. Utilizou-os como instrumento de propaganda numa lógica imediatista. Assim, o ministério preocupou-se em apresentar resultados a qualquer custo.

Reduziu de forma escandalosa o grau de dificuldade da grande maioria dos exames; através do Gave deu instruções aos professores correctores para serem benévolos na avaliação dos referidos exames. O resultado só poderia ser um: uma subida significativa nas médias nacionais. Membros do actual governo e do grupo parlamentar do P.S. vieram logo a seguir dizer que nas escolas se deu uma revolução extraordinária, que agora os professores já trabalham e que os alunos aprendem como nunca se viu. Com este procedimento, o ministério conseguiu desacreditar os exames, tornando-os um instrumento inútil para avaliar a qualidade das aprendizagens dos alunos, pois, ao terem um grau de dificuldade tão díspar torna-se inviável qualquer comparação entre os resultados de diferentes anos lectivos. Deste modo, perdeu um instrumento precioso para avaliar a qualidade do sistema educativo.

O que se passou com os exames nacionais mostra que este ministério sempre teve uma política facilitista ainda que sempre procurasse passar uma imagem de exigência e rigor. Esta política é uma política irresponsável e está a anos luz daquilo que o país necessita para vencer a batalha do desenvolvimento. O ministério ao proceder desta forma está a hipotecar o futuro do país, pois, não há desenvolvimento sem exigência nem esforço e o sinal enviado para os alunos é que os objectivos podem-se alcançar sem grande esforço.

F. Pinheiro

Como se chegou a este ponto?

“Fenprof exige suspensão da avaliação ou ausência de consequências para docentes”.

Nalguns comentários a essa notícia do jornal Público pode ler-se que os professores são todos uns incompetentes e preguiçosos, que querem trabalhar pouco e não ser avaliados. Trata-se, como é óbvio, de uma generalização grosseira.

Não se pode falar assim. Há cerca de 140 mil professores em Portugal e muitos (mas todos, infelizmente) são empenhados e competentes. Muitos querem ser realmente avaliados.

Seja como for, os professores (individualmente e em grupo, através das associações e sindicatos), deviam reflectir acerca dessa má opinião que muitas pessoas em Portugal têm dos professores. Como se chegou a este ponto?

Talvez essa reflexão pudesse contribuir para clarificar, e até resolver, alguns dos problema da educação, nomeadamente o problema da avaliação dos professores. Que não é, infelizmente, o nosso pior problema.

O conceito da originalidade (segundo os alunos)

Com a internet o conceito de originalidade desapareceu. Basta analisarmos os trabalhos que os alunos apresentam todos os anos: uma amálgama de frases e ideias sem sentido, colocadas de forma a ter um ar minimamente apresentável.
O que é também curiosa é a análise da bibliografia do dito trabalho: sites, sites e mais sites (quando não aparece só google). A maioria nem se lembra de colocar o próprio manual.
Ou o nome dos autores. Esse é um conceito que parece não existir:"se está na net é porque é de todos", já dizia um aluno meu. Segue-se outra interpretação original:



Imagem retirada aqui.

domingo, 19 de julho de 2009

A exigência no ensino é uma coisa boa: a escola deve ser difícil!

Elogio da exigência no ensino, numa história genial de Isaac Asimov, contada pelo matemático Jorge Buescu. Aqui.

Elogio da exigência no ensino, do professor de medicina e neurocirurgião João Lobo Antunes. Aqui.

Políticas educativas: todas diferentes, todas demasiado iguais!

No blogue de Rerum Natura, a pedagoga Helena Damião escreveu um excelente texto (“Poderia o nosso ministério da Educação ser diferente?”)acerca do facto dos vários partidos políticos portugueses partilharem diversas ideias erradas sobre a educação e não serem capazes de defender outras ideias melhores, por terem a sua impopularidade. As perguntas feitas no excerto abaixo apresentado têm todas a mesma resposta: nenhum.

Infelizmente não são só os partidos políticos a pensar assim. Os 25 subscritores do manifesto “O nosso presente e o nosso futuro: algumas questões prementes” não se desviam muito dessa linha, como se percebe lendo as páginas educadas à educação. Embora incluam algumas questões e propostas pertinentes face ao descalabro que foram as medidas deste governo, não rompem com o modo de pensar descrito por Helena Damião. Ora, os 25 cidadãos que subscreveram o documento dizem-se – segundo o jornal Público - independentes, pelo que nem podem alegar o medo das represálias eleitorais…

“Que partido teria coragem de defender que o ensino, mais do que respeitar os interesses e as necessidades dos alunos ao ponto de os tomar como metas educativas, deve modificá-los no sentido do que é assumido como educação desejável? Que a aprendizagem direccionada (só) para o quotidiano social, cultural, étnico dos alunos, descuidando as suas potencialidades cognitivas, empobrece-os intelectualmente; que a aprendizagem cooperativa, de projecto, de pesquisa não pode nem deve substituir o ensino estruturado; que não há garantias que as tecnologias da informação e da comunicação constituam uma grande ou pequena revolução pedagógica; que, por princípio, os encarregados de educação e pais não se devem pronunciar em matéria de ensino formal, pois este constitui uma actividade técnica que só os professores dominam com a competência de especialistas; que as actividades lúdicas e as actividades formais devem estar devidamente separadas e sequenciadas no espaço e tempo escolares; que a noção de escola inclusiva levanta as maiores dúvidas, do ponto de vista de desenvolvimento daqueles que mais dificuldades têm; que as crianças e jovens não devem, em circunstância alguma, avaliar os professores; que a escola a tempo inteiro acarreta problemas dos quais ainda mal conhecemos os contornos; que as câmaras de vigilância nos recreios, em substituição de pessoas, não educam; que o conhecimento tem valor e que a escola não o deve dispensar ou aligeirar em nome seja do que for; que todos os sujeitos têm direito a uma educação elitista, mesmo aqueles que seguem vias profissionalizantes?”

sexta-feira, 17 de julho de 2009

É preciso reconhecer: isto não é eleitoralismo!

A ministra da educação e a sua equipa talvez não vivam no mesmo país que nós. Ou, então, vivem, mas estão tão convictos das suas ideias que dispensam a realidade. Senão repare nesta notícia:

“Aplicar exactamente o mesmo modelo de avaliação que esteve em vigor desde Janeiro. Ou seja, uma versão simplificada do que inicialmente foi aprovado pelo Governo. É esta, no essencial, a proposta que a ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues tinha para anunciar aos sindicatos que hoje estiveram reunidos com a governante, em Lisboa.”

Seja como for, há um elogio que não devemos negar à equipa ministerial: não estão a fazer uma política eleitoralista! É que estas atordoadas custam votos!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O respeitinho é muito bonito – vocês foram avisados!

O jornal Público deu-nos hoje a conhecer esta vergonha:

Primeira escola a concluir avaliação vai penalizar docentes que não entregaram objectivos individuais.

Ou seja:

“A Escola Secundária de Odivelas terá sido a primeira escola do país a concluir o processo de avaliação de desempenho dos professores. E a primeira a tomar uma decisão sobre o que fazer com os professores que não entregaram os objectivos individuais: não avaliá-los. (…) Um professor que não seja avaliado não progride na carreira e é prejudicado do ponto de vista salarial.”

Há poucos meses atrás este governo falava de valorização da carreira docente, de reforçar o estatuto e a autoridade dos professores. Como não foi no dia 1 de Abril que disseram isso, conclui-se que…

Finalmente, a verdade sobre as estatísticas!

No blogue De Rerum Natura pode ler três divertidas citações sobre as estatísticas:

Citação sobre bêbados e estatística.

Citação sobre o biquini e estatística.

Citação sobre mentiras e estatísticas.

Para abrir o apetite eis a segunda delas, de Aaron Levenstein:

"A estatística é como um biquini. O que mostra é sugestivo, mas o que esconde é essencial".

Claro que o facto de muitas vezes as estatísticas serem utilizadas para mentir não tem nada a ver com o que se passa actualmente na educação em Portugal. A sério: é só humor!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Exagero? Olhe que não, olhe que não!

turmas muito grandes

Retirado do Moa Blog.

Não é o ideal, mas há retratos piores!

 

Eu nasci lá para os lados do rio
passava os dias a jogar à bola
mas eu não era excepção
e antes que desse por isso
já estava na escola

O programa era elementar
entre o Euclides e o Arquimedes
mas sempre que a informação
dá uma volta no espaço
eu quero sintonizar

A escola ainda não acabou
há sempre tanta matéria a estudar
que eu chego mesmo a ter medo
de em qualquer momento
já não ter lugar
para mais conhecimento

Já consigo filosofar
sei uma ou duas palavras em grego
enquanto o tempo deixar
e a escola não se afundar
vou alterando o meu ego

Vou deixando as moscas pairar
vou vendo se Godot já chegou
e quando me dá na tola
dou um chuto na bola
só para me aliviar

A escola ainda não acabou
há sempre tanta matéria a estudar
que eu chego mesmo a ter medo
de em qualquer momento
já não ter lugar
para mais conhecimento

Jorge Palma, “A Escola”

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Saber pôr as culpas é uma arte pouco subtil!

culpa

De acordo com a ministra de educação, Maria de Lurdes Rodrigues,  e com o secretário de estado, Valter Lemos, a descida dos resultados no exame de Matemática tem os seguintes culpados: a comunicação social,  a Sociedade Portuguesa de Matemática e alguns “partidos e pessoas com responsabilidades políticas”. E porquê? Porque disseram que os exames eram fáceis e isso fez com que os alunos não estudassem.

Estas declarações já têm 3 dias e já foram por isso devidamente analisadas e, como merecem, criticadas e ridicularizadas.

Faltava apenas identificar a fonte inspiradora de Maria de Lurdes Rodrigues e de Valter Lemos. E aí está, descobri agora mesmo na Net: Homer Simpson, que tem  óbvias afinidades intelectuais com essas personagens da tragédia em que se tornou a Educação em Portugal.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Só isso?? E o facto das Novas Oportunidades serem uma aldrabice – não conta??

Este título é motivado por esta notícia do jornal Público:

“Demasiado tempo de espera, horários difíceis de compatibilizar com a vida pessoal e pouco impacto a nível profissional são os três maiores problemas identificados na Iniciativa Novas Oportunidades, de acordo com o primeiro estudo externo ao programa que será apresentado amanhã no Centro de Congressos de Lisboa. Contudo, para os autores, os ganhos na auto-estima dos participantes é um dos efeitos que mais compensou e que, a médio prazo, poderá revolucionar o tecido empresarial.”

E a resposta à pergunta contida no título do post é: NÃO! NÃO CONTA!

O FACTO DE QUASE TODOS OS PROFESSORES QUE LECCIONAM AS NOVAS OPORTUNIDADES DIZEREM QUE AQUILO É UMA ALDRABICE NÃO CONTA!

O que conta é a opinião de Roberto Carneiro, que foi o primeiro Ministro da Educação a ceder ao “eduquês” e a dar carta branca aos supostos “especialistas” das “Ciências” da Educação.

Mas, que este governo minta e deturpe os resultados, não surpreende – é o que tem feito em relação a todos os aspectos da política educativa! O que surpreende é o silêncio dos professores que têm leccionado aulas nas Novas Oportunidades.

Há muitos meses que ouço queixas desses professores. Se vivemos numa sociedade realmente democrática, porque é que essa queixas não são públicas?

Falta de espírito? Medo?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Horas extraordinárias não remuneradas


Em tempo de balanços e relatórios, deixo aqui o registo de algumas das tarefas que realizei como directora de turma. (Para contextualizar: sou professora do ensino secundário e leccionei aulas a cinco turmas e dois níveis diferentes.)

Passei dezenas de horas a ler legislação, por vezes alterando regras que tinham entrado em vigor poucos meses antes. Passei dezenas de horas a analisar inquéritos com dados pessoais inúteis acerca dos alunos e depois a preencher formulários também inúteis com as supostas conclusões inferidas desses dados. Recebi 30 Encarregados de Educação na hora de atendimento. Efectuei cerca de 20 telefonemas. Enviei 37 cartas. Realizei 3 reuniões com os Encarregados de Educação (depois das 18.30). Organizei e realizei uma visita de estudo. Presidi a 7 reuniões do Conselho de Turma. E, já me ia esquecendo, andei diversas vezes atrás de alunos e de colegas por causa de medidas correctivas e provas de recuperação.

Para desempenhar estas tarefas tinha no meu horário um bloco semanal de 90 minutos. Seria suficiente?

Claro que não. Fiz aquilo que muitos professores actualmente são obrigados a fazer se quiserem cumprir as obrigações inerentes às suas funções: horas extraordinárias não remuneradas.

Será por mera preguiça que tantos professores experientes, mas ainda a anos de atingirem a idade da reforma, optaram por se reformar antecipadamente? Ou esse fenómeno terá algo a ver com as condições de trabalho que são dadas aos professores?