quarta-feira, 29 de julho de 2009

Avaliação: ser bom não chega, é também preciso… Vamos discutir o que é preciso?

médico Atul Gawande ser bom não chega “Atul Gawande é médico-cirurgião (…). É professor catedrático de Cirurgia em Harvard. E, ainda, redactor e colunista. (…) Depois de ter escrito A mão que nos opera (2007), livro de divulgação, publicou, neste ano, Ser bom não chega (2009) com o mesmo teor [na editora Lua de Papel]. A propósito deste último livro, deu uma entrevista à revista Sábado”, cujo resumo se encontra no blogue De Rerum Natura, e na qual se pode ler a seguinte passagem:

“Pergunta: Interfere no trabalho de outros médicos?

Resposta: A toda a hora! Se vejo um colega a fazer um mau diagnóstico já com uma cirurgia marcada não lhe vou dizer ‘és um idiota! Olha o que estás a fazer!’, porque sei que posso ser eu o próximo idiota! O que faço é explicar-lhe que acho que deixámos passar alguma coisa e tentar resolver os problemas. (…) O problema dos erros não é dos maus médicos: o pior é que eles acontecem aos bons.”

Não poderão estas palavras aplicar-se aos professores? Na minha opinião, não só podem como devem! Creio que a análise e a discussão das palavras de Atul Gawande, bem como a sua generalização ao caso dos professores portugueses, permitiriam concluir que os professores devem ser de facto avaliados e que o modo como este governo tentou efectuar essa avaliação é muito mau e contraproducente! É como se o governo dissesse aos professores “vocês são uns idiotas” – esquecendo que os membros do governo podem ser os actuais idiotas! Ou seja: feito assim, é pior a emenda que o soneto.

Porém, e como é publicamente notório, a maioria dos professores (por razões diferentes, algumas delas certamente nobres e muito fundamentadas) revela pouca disponibilidade para essa análise e discussão. Têm aulas para preparar, testes para corrigir, livros para ler, relatórios chatos e inúteis que já deviam estar feitos ontem, software para instalar, filhos para cuidar, frustrações e tristezas para compensar, constipações para curar, etc.

O problema é que (por muito atendíveis que sejam essas razões), quando a maioria não está interessada num debate desse género, mesmo a abordagem construtiva recomendada por Atul Gawande pode ser confundida com a abordagem destrutiva do ‘és um idiota! Olha o que estás a fazer!’. Apesar de existirem outras causas, o facto de alguns professores (inclusivamente alguns que defendem a avaliação e são competentes) terem medo de ser avaliados tem certamente alguma relação com esse fenómeno.

Por isso, se as coisas continuarem assim, digam o que disserem o governo e os sindicatos (e alguns professores com voz própria, na TV, em jornais, em blogues, etc.) as coisas não mudarão na educação deste país – que precisa de cidadãos mais qualificados, ou seja, de melhor educação!

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