sexta-feira, 31 de julho de 2009

Se as leis forem uma teia confusa os cidadãos conseguirão respeitá-las?

Os velhos gregos orgulhavam-se de obedecer a leis e não a homens e desdenhavam os persas, que tinham de obedecer à vontade caprichosa de um homem – o rei.

Mas poderá alguém valorizar tanto o império da lei se viver num país como Portugal?

Em Portugal, as leis estão sempre a mudar (sem que muitas vezes se perceba o motivo e a utilidade da mudança). Em Portugal, muitas vezes as leis que mudam são incompatíveis com as leis que não mudam. Em Portugal, o conjunto das leis constitui um labirinto confuso que atrapalha até os melhores juristas. Em Portugal, as leis são tão opacas e difíceis de interpretar que, mesmo as pessoas mais crédulas e optimistas, são levadas a pensar que os detentores do poder fazem essas leis em seu benefício e querem enganar o povo. “Eles são todos iguais”, “Eles querem é servir-se”, são duas frases muito ouvidas em Portugal acerca dos responsáveis políticos – independentemente do partido que ganhou as últimas eleições.

Em Portugal, existem situações inacreditáveis como esta: um decreto-lei contraria uma norma juridicamente superior (por culpa do governo), mas o Tribunal Constitucional (que fiscaliza o respeito pela Constituição, pela lei das leis) considera que nada tem a dizer em relação a isso, pois (de acordo com a notícia do jornal Público) a “eventual contradição entre um regulamento e uma lei é um problema de mera ilegalidade e não de constitucionalidade”.

Trata-se do cúmulo do formalismo! Se é assim, de que serve ter uma Constituição? Se as pessoas que têm a responsabilidade principal na defesa da lei e do valor da lei (ou, por outras palavras, do Estado de Direito) se perdem em subtilezas estéreis e opacas e em formalismos vazios, será de admirar que as outras pessoas (que não são especialistas) comecem a duvidar do valor dessa lei?

Como democrata, espero que isso não contribua para que um dia destes muitas pessoas achem mais seguro meter a democracia na gaveta e obedecer a um chefe qualquer em vez de à lei!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Os alunos externos são extraterrestres ou são alunos portugueses?

A notícia do jornal Público começa assim: «Uma hecatombe. Todos os exames do ensino secundário mais concorridos tiveram média negativa na segunda fase, mostram os resultados divulgados hoje.»

Mas para os lúcidos responsáveis do ME não há motivos de preocupação: «O Ministério da Educação atribui esta queda ao facto de nesta fase o "peso dos alunos externos" ser maior e por isso pesar mais "na determinação do sentido positivo ou negativo da média geral".»

Claro que faz sentido analisar a influência dos alunos externos nas classificações. Mas já faz menos sentido o Ministério desresponsabilizar-se dos resultados dos alunos externos. Será que esses alunos nunca passaram pelos bancos das escolas portuguesas? E, já agora, porque é que há tantos alunos externos?

Seja como for, esse género de análises (além das diferenças entre alunos internos e externos, também faz sentido analisar as diferenças entre a 1ª fase e a 2ª fase, entre o actual ano lectivo e os anos anteriores, entre os resultados das diversas disciplinas, etc.) incide sobre aspectos particulares e a circunstância do seu resultado ser mais positivo ou mais negativo não anula este facto: se os exames não são escandalosamente fáceis os resultados são maus.

Pois é: a expressão “os lúcidos responsáveis do ME” que utilizei algumas linhas atrás era irónica!

(Relativamente a este tema escrevi também aqui, com direito a comentários anónimos dos defensores fanáticos do governo.)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Portugal: que futuro?

Esta canção interpretada pelo Rio Grande é de 1996. Provavelmente, não dirá muito a grande parte dos jovens que frequentam hoje o ensino secundário. Transmite, entre outras ideias, uma imagem positiva da escola, do saber, do esforço e do trabalho. Valores que entretanto caíram um pouco em desuso.

Muitas pessoas em Portugal - incluindo os ideólogos do actual Ministério da Educação - defendem que a escola deve, pelo contrário, permitir aprender de forma divertida, sem grande esforço e proporcionando prazer imediato.

Sem a valorização do trabalho e um justo reconhecimento do mérito - dos alunos e dos professores - que futuro podemos esperar?

Canção composta por João Monge e interpretada pelo Rio Grande.

Querida mãe, querido pai. Então que tal?
Nós andamos do jeito que Deus quer
Entre dias que passam menos mal
Lá vem um que nos dá mais que fazer


Mas falemos de coisas bem melhores
A Laurinda faz vestidos por medida
O rapaz estuda nos computadores
Dizem que é um emprego com saída


Cá chegou direitinha a encomenda
Pelo "expresso" que parou na Piedade
Pão de trigo e linguiça pra merenda
Sempre dá para enganar a saudade


Espero que não demorem a mandar
Novidade na volta do correio
A ribeira corre bem ou vai secar?
Como estão as oliveiras de "candeio"?


Já não tenho mais assunto pra escrever
Cumprimentos ao nosso pessoal
Um abraço deste que tanto vos quer
Sou capaz de ir aí pelo Natal

Avaliação: ser bom não chega, é também preciso… Vamos discutir o que é preciso?

médico Atul Gawande ser bom não chega “Atul Gawande é médico-cirurgião (…). É professor catedrático de Cirurgia em Harvard. E, ainda, redactor e colunista. (…) Depois de ter escrito A mão que nos opera (2007), livro de divulgação, publicou, neste ano, Ser bom não chega (2009) com o mesmo teor [na editora Lua de Papel]. A propósito deste último livro, deu uma entrevista à revista Sábado”, cujo resumo se encontra no blogue De Rerum Natura, e na qual se pode ler a seguinte passagem:

“Pergunta: Interfere no trabalho de outros médicos?

Resposta: A toda a hora! Se vejo um colega a fazer um mau diagnóstico já com uma cirurgia marcada não lhe vou dizer ‘és um idiota! Olha o que estás a fazer!’, porque sei que posso ser eu o próximo idiota! O que faço é explicar-lhe que acho que deixámos passar alguma coisa e tentar resolver os problemas. (…) O problema dos erros não é dos maus médicos: o pior é que eles acontecem aos bons.”

Não poderão estas palavras aplicar-se aos professores? Na minha opinião, não só podem como devem! Creio que a análise e a discussão das palavras de Atul Gawande, bem como a sua generalização ao caso dos professores portugueses, permitiriam concluir que os professores devem ser de facto avaliados e que o modo como este governo tentou efectuar essa avaliação é muito mau e contraproducente! É como se o governo dissesse aos professores “vocês são uns idiotas” – esquecendo que os membros do governo podem ser os actuais idiotas! Ou seja: feito assim, é pior a emenda que o soneto.

Porém, e como é publicamente notório, a maioria dos professores (por razões diferentes, algumas delas certamente nobres e muito fundamentadas) revela pouca disponibilidade para essa análise e discussão. Têm aulas para preparar, testes para corrigir, livros para ler, relatórios chatos e inúteis que já deviam estar feitos ontem, software para instalar, filhos para cuidar, frustrações e tristezas para compensar, constipações para curar, etc.

O problema é que (por muito atendíveis que sejam essas razões), quando a maioria não está interessada num debate desse género, mesmo a abordagem construtiva recomendada por Atul Gawande pode ser confundida com a abordagem destrutiva do ‘és um idiota! Olha o que estás a fazer!’. Apesar de existirem outras causas, o facto de alguns professores (inclusivamente alguns que defendem a avaliação e são competentes) terem medo de ser avaliados tem certamente alguma relação com esse fenómeno.

Por isso, se as coisas continuarem assim, digam o que disserem o governo e os sindicatos (e alguns professores com voz própria, na TV, em jornais, em blogues, etc.) as coisas não mudarão na educação deste país – que precisa de cidadãos mais qualificados, ou seja, de melhor educação!

domingo, 26 de julho de 2009

Ping-pong politiqueiro

A acusa B, C (amigo de B) acusa A e nega a sua acusação, B nega a acusação - "Eu?? Claro que não!" - e também acusa A. Qual será a reacção de A?

Pois bem, A nega as negações e considera que elas comprovam a acusação!

Qual será a reacção de B e C à reacção de A? Esperam-se novas jogadas a qualquer momento. Isto promete…

Veja aqui os detalhes das primeiras jogadas e aqui os detalhes da mais recente.

A cada nova jogada deste monótono ping-pong politiqueiro (reservemos a palavra “político” para actos mais nobres) a abstenção eleitoral cresce um bocadinho.

sábado, 25 de julho de 2009

O trabalho torna o repouso agradável!

Segundo o filósofo grego Heraclito, só damos valor ao repouso devido ao trabalho (do mesmo modo, se não fossem as doenças não atribuiríamos qualquer importância à saúde).

Tenho procurado agarrar-me a essa ideia, agora que as férias estão próximas e na escola há menos trabalho, mas em que me vejo obrigado a arrumar os despojos do ano lectivo: centenas de papéis e dezenas de documentos no computador, todos eles ansiando pelo seu lugar natural num dossier na estante ou numa pasta nos “Meus Documentos”.

Essas arrumações são trabalhosas e aborrecidas, mesmo que feitas a ouvir música tão boa como as obras-primas do álbum Kind of Blue, de Miles Davis. O que vale é que, a acreditar em Heraclito, esta trabalheira dará mais sabor às férias.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Há corninhos e corninhos, há ministros demitidos e ministros por demitir

Ainda não há muito tempo atrás, o ministro da economia, Manuel Pinho demitiu-se, ou foi pressionado para se demitir, por fazer corninhos na casa da democracia. Aliás, o senhor Primeiro Ministro, José Sócrates, considerou o comportamento inaceitável, pois, ofendia a dignidade da instituição. O comportamento é reprovável, mas não passou de uma infantilidade. A comunicação social deu grande alarido ao caso e Portugal foi primeira página em alguns jornais estrangeiros.

Hoje, a notícia relativa ao relatório do Tribunal de Contas sobre prolongamento da concessão do terminal de Alcântara não causou nem uma décima parte do alarido. Neste relatório, o Tribunal de Contas considera o negócio ruinoso para o estado e considera o prolongamento da concessão inaceitável em termos éticos e questionável no plano legal. Assim, devemos referir que o prolongamento da concessão foi realizado sem concurso público. Este procedimento impediu que outras empresas apresentassem propostas que poderiam ser mais vantajosas para o estado português. Por outro lado, o contrato de concessão apresenta previsões consideradas optimistas quanto à evolução do tráfego futuro. Se estas previsões não se vierem a cumprir, então, o estado, isto é, os contribuintes serão chamados a compensar a Liscont. Face ao exposto, se o negócio for rentável a Liscont arrecada os lucros, mas se o negócio se revelar deficitário a Liscont não irá ter prejuízo, pois os contribuintes é que arcarão com o prejuízo. Mais ainda, o contrato de concessão foi de tal forma urdido que a Liscont terá sempre lucro, seja este proporcionado pelo tráfego ou pelos contribuintes. Um dado que, possivelmente, torna este negócio ainda mais tenebroso é o facto de a empresa ser gerida pelo senhor Jorge Coelho, homem que conhece como ninguém os meandros do aparelho socialista.

A questão que urge colocar é se o caso da Liscont não será suficiente para provocar a demissão do senhor ministro Mário Lino? Ou será que em Portugal apenas as piadas de mau gosto e as infantilidades provocam a demissão de ministros?

F. Pinheiro

O facilitismo na Educação é um tiro no pé!

Hoje observei uma situação na rua que, apesar da proximidade das férias e da ausência de actividades lectivas, me levou a fazer considerações semelhantes àquelas que Desidério Murcho faz no texto a seguir apresentado. A situação foi esta: um rapaz dos seus 15 anos encontrou não sei que folheto na rua e, depois de lhe dar uma vista de olhos, perguntou ao pai: “Quem é Eça de Queiroz?” O pai, vestido com a farda dos varredores municipais, respondeu: “Sei lá! Deve ser um político qualquer…”

tiro_no_pe O “facilitismo não teve o efeito que os partidários do “eduquês” dizem que teria: dar oportunidades aos estudantes culturalmente mais desfavorecidos. Em 30 anos de facilitismo educativo, os efeitos não se fizeram sentir: os cursos de maior prestígio e exigência cognitiva continuam a ser maioritariamente frequentados por “meninos finos”. Porquê? Porque o facilitismo, ao contrário do que os partidários do “eduquês” defendem (e têm toda a legitimidade para o defender, não é isso que está em causa), não favorece os meninos culturalmente carentes — pelo contrário, deixa-os ainda mais carentes. Apenas permite que não reprovem. Mas não reprovar sem saber é tão mau, ou pior, do que reprovar. O que era realmente necessário era fazer esses meninos ter aproveitamento cognitivo real, e não fingir que o têm por via do facilitismo.”

Este texto (publicado no blogue De Rerum Natura) data de 4 de Abril de 2007. A situação entretanto piorou e, é hoje mais óbvio que nunca, que o facilitismo na educação promove a desigualdade social e não a igualdade.

O facilitismo é um tiro no pé: permitir que os alunos frequentem a escola e tenham aproveitamento sem aprender realmente não beneficia esses alunos, prejudica-os. E ao país também.

O facilitismo prejudica o país porque, além de prejudicar os alunos culturalmente carenciados, destrói o valor do conhecimento e da educação.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

“BOAS PRÁTICAS”

Vídeo dos Contemporâneos sobre os exames nacionais.

O que faz um adolescente no Verão?

Imagem encontrada aqui.

Coitados! Assim já não terão excelente nem se tornarão deputados titulares!

“Durante os quatro anos e meio desta legislatura, em que se realizaram 464 reuniões plenárias, os deputados deram mais de 6600 faltas.”

(Clique aqui para ler mais.)

Se as leis que os deputados aprovaram (não digo criaram, pois a grande maioria deles não criou nada e limitou-se a votar de acordo com as ordens recebidas) acerca dos professores (Estatuto da carreira Docente e Avaliação do Desempenho) lhes fossem aplicadas, o que sucederia aos seus mandatos e às suas carreiras políticas? E, já agora, o que sucederia às suas reformas?

Pois é: há dois pesos e duas medidas!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Uma caricatura da relação professor-aluno ou, em muitos casos, a realidade?

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Não pensem que é caso único!

Escola de Darque passou um aluno com nove negativas e garante que foi a melhor solução…

“Negativa a Língua Portuguesa, a História e a Matemática. Negativa também a Geografia, a Físico-Química, a Educação Visual... Feitas as contas, José, chamemos-lhe assim, teve nove negativas em 14 "cadeiras". Tem 15 anos, está no 8.º ano do ensino básico. E a escola passou-o.”

(Notícia do jornal Público. Clique aqui para ler mais.)

Parece mentira mas é verdade. E, como qualquer professor sabe, não é caso único. Há muitos outros casos em Portugal e em todos eles o resultado é semelhante: quando acabam as "ajudas" e o facilitismo, esses alunos reprovam.

De quem é a responsabilidade?

A responsbilidade é, em primeiro lugar, do Ministério da Educação, que faz leis que permitem e até incentivam essa permissividade.

Mas a responsabilidade é também dos professores. Dos professores que ocupam cargos nos órgãos dirigentes das escolas, pois são frequentemente mais papistas que o Papa e inventam regras específicas ainda mais permissivas (e muito diferentes de escola para escola, o que põe em causa o princípio constitucional da igualdade perante a lei) que a lei geral. E também de muitos (e não todos, claro) dos outros professores, que têm medo de ser rigorosos e exigentes na avaliação.

Os professores sabem que as coisas se passam assim e que os primeiros prejudicados são os alunos que se pretende, supostamente, ajudar. Mas as outras pessoas saberão?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Os exames nacionais

Os exames nacionais poderiam ser um instrumento precioso para avaliar os professores e, acima de tudo, a qualidade do sistema educativo, contudo, durante a presente legislatura, o minsitério da educação tudo fez para os descredibilizar. Utilizou-os como instrumento de propaganda numa lógica imediatista. Assim, o ministério preocupou-se em apresentar resultados a qualquer custo.

Reduziu de forma escandalosa o grau de dificuldade da grande maioria dos exames; através do Gave deu instruções aos professores correctores para serem benévolos na avaliação dos referidos exames. O resultado só poderia ser um: uma subida significativa nas médias nacionais. Membros do actual governo e do grupo parlamentar do P.S. vieram logo a seguir dizer que nas escolas se deu uma revolução extraordinária, que agora os professores já trabalham e que os alunos aprendem como nunca se viu. Com este procedimento, o ministério conseguiu desacreditar os exames, tornando-os um instrumento inútil para avaliar a qualidade das aprendizagens dos alunos, pois, ao terem um grau de dificuldade tão díspar torna-se inviável qualquer comparação entre os resultados de diferentes anos lectivos. Deste modo, perdeu um instrumento precioso para avaliar a qualidade do sistema educativo.

O que se passou com os exames nacionais mostra que este ministério sempre teve uma política facilitista ainda que sempre procurasse passar uma imagem de exigência e rigor. Esta política é uma política irresponsável e está a anos luz daquilo que o país necessita para vencer a batalha do desenvolvimento. O ministério ao proceder desta forma está a hipotecar o futuro do país, pois, não há desenvolvimento sem exigência nem esforço e o sinal enviado para os alunos é que os objectivos podem-se alcançar sem grande esforço.

F. Pinheiro

Como se chegou a este ponto?

“Fenprof exige suspensão da avaliação ou ausência de consequências para docentes”.

Nalguns comentários a essa notícia do jornal Público pode ler-se que os professores são todos uns incompetentes e preguiçosos, que querem trabalhar pouco e não ser avaliados. Trata-se, como é óbvio, de uma generalização grosseira.

Não se pode falar assim. Há cerca de 140 mil professores em Portugal e muitos (mas todos, infelizmente) são empenhados e competentes. Muitos querem ser realmente avaliados.

Seja como for, os professores (individualmente e em grupo, através das associações e sindicatos), deviam reflectir acerca dessa má opinião que muitas pessoas em Portugal têm dos professores. Como se chegou a este ponto?

Talvez essa reflexão pudesse contribuir para clarificar, e até resolver, alguns dos problema da educação, nomeadamente o problema da avaliação dos professores. Que não é, infelizmente, o nosso pior problema.

O conceito da originalidade (segundo os alunos)

Com a internet o conceito de originalidade desapareceu. Basta analisarmos os trabalhos que os alunos apresentam todos os anos: uma amálgama de frases e ideias sem sentido, colocadas de forma a ter um ar minimamente apresentável.
O que é também curiosa é a análise da bibliografia do dito trabalho: sites, sites e mais sites (quando não aparece só google). A maioria nem se lembra de colocar o próprio manual.
Ou o nome dos autores. Esse é um conceito que parece não existir:"se está na net é porque é de todos", já dizia um aluno meu. Segue-se outra interpretação original:



Imagem retirada aqui.

domingo, 19 de julho de 2009

A exigência no ensino é uma coisa boa: a escola deve ser difícil!

Elogio da exigência no ensino, numa história genial de Isaac Asimov, contada pelo matemático Jorge Buescu. Aqui.

Elogio da exigência no ensino, do professor de medicina e neurocirurgião João Lobo Antunes. Aqui.

Políticas educativas: todas diferentes, todas demasiado iguais!

No blogue de Rerum Natura, a pedagoga Helena Damião escreveu um excelente texto (“Poderia o nosso ministério da Educação ser diferente?”)acerca do facto dos vários partidos políticos portugueses partilharem diversas ideias erradas sobre a educação e não serem capazes de defender outras ideias melhores, por terem a sua impopularidade. As perguntas feitas no excerto abaixo apresentado têm todas a mesma resposta: nenhum.

Infelizmente não são só os partidos políticos a pensar assim. Os 25 subscritores do manifesto “O nosso presente e o nosso futuro: algumas questões prementes” não se desviam muito dessa linha, como se percebe lendo as páginas educadas à educação. Embora incluam algumas questões e propostas pertinentes face ao descalabro que foram as medidas deste governo, não rompem com o modo de pensar descrito por Helena Damião. Ora, os 25 cidadãos que subscreveram o documento dizem-se – segundo o jornal Público - independentes, pelo que nem podem alegar o medo das represálias eleitorais…

“Que partido teria coragem de defender que o ensino, mais do que respeitar os interesses e as necessidades dos alunos ao ponto de os tomar como metas educativas, deve modificá-los no sentido do que é assumido como educação desejável? Que a aprendizagem direccionada (só) para o quotidiano social, cultural, étnico dos alunos, descuidando as suas potencialidades cognitivas, empobrece-os intelectualmente; que a aprendizagem cooperativa, de projecto, de pesquisa não pode nem deve substituir o ensino estruturado; que não há garantias que as tecnologias da informação e da comunicação constituam uma grande ou pequena revolução pedagógica; que, por princípio, os encarregados de educação e pais não se devem pronunciar em matéria de ensino formal, pois este constitui uma actividade técnica que só os professores dominam com a competência de especialistas; que as actividades lúdicas e as actividades formais devem estar devidamente separadas e sequenciadas no espaço e tempo escolares; que a noção de escola inclusiva levanta as maiores dúvidas, do ponto de vista de desenvolvimento daqueles que mais dificuldades têm; que as crianças e jovens não devem, em circunstância alguma, avaliar os professores; que a escola a tempo inteiro acarreta problemas dos quais ainda mal conhecemos os contornos; que as câmaras de vigilância nos recreios, em substituição de pessoas, não educam; que o conhecimento tem valor e que a escola não o deve dispensar ou aligeirar em nome seja do que for; que todos os sujeitos têm direito a uma educação elitista, mesmo aqueles que seguem vias profissionalizantes?”

sexta-feira, 17 de julho de 2009

É preciso reconhecer: isto não é eleitoralismo!

A ministra da educação e a sua equipa talvez não vivam no mesmo país que nós. Ou, então, vivem, mas estão tão convictos das suas ideias que dispensam a realidade. Senão repare nesta notícia:

“Aplicar exactamente o mesmo modelo de avaliação que esteve em vigor desde Janeiro. Ou seja, uma versão simplificada do que inicialmente foi aprovado pelo Governo. É esta, no essencial, a proposta que a ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues tinha para anunciar aos sindicatos que hoje estiveram reunidos com a governante, em Lisboa.”

Seja como for, há um elogio que não devemos negar à equipa ministerial: não estão a fazer uma política eleitoralista! É que estas atordoadas custam votos!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O respeitinho é muito bonito – vocês foram avisados!

O jornal Público deu-nos hoje a conhecer esta vergonha:

Primeira escola a concluir avaliação vai penalizar docentes que não entregaram objectivos individuais.

Ou seja:

“A Escola Secundária de Odivelas terá sido a primeira escola do país a concluir o processo de avaliação de desempenho dos professores. E a primeira a tomar uma decisão sobre o que fazer com os professores que não entregaram os objectivos individuais: não avaliá-los. (…) Um professor que não seja avaliado não progride na carreira e é prejudicado do ponto de vista salarial.”

Há poucos meses atrás este governo falava de valorização da carreira docente, de reforçar o estatuto e a autoridade dos professores. Como não foi no dia 1 de Abril que disseram isso, conclui-se que…

Finalmente, a verdade sobre as estatísticas!

No blogue De Rerum Natura pode ler três divertidas citações sobre as estatísticas:

Citação sobre bêbados e estatística.

Citação sobre o biquini e estatística.

Citação sobre mentiras e estatísticas.

Para abrir o apetite eis a segunda delas, de Aaron Levenstein:

"A estatística é como um biquini. O que mostra é sugestivo, mas o que esconde é essencial".

Claro que o facto de muitas vezes as estatísticas serem utilizadas para mentir não tem nada a ver com o que se passa actualmente na educação em Portugal. A sério: é só humor!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Exagero? Olhe que não, olhe que não!

turmas muito grandes

Retirado do Moa Blog.

Não é o ideal, mas há retratos piores!

 

Eu nasci lá para os lados do rio
passava os dias a jogar à bola
mas eu não era excepção
e antes que desse por isso
já estava na escola

O programa era elementar
entre o Euclides e o Arquimedes
mas sempre que a informação
dá uma volta no espaço
eu quero sintonizar

A escola ainda não acabou
há sempre tanta matéria a estudar
que eu chego mesmo a ter medo
de em qualquer momento
já não ter lugar
para mais conhecimento

Já consigo filosofar
sei uma ou duas palavras em grego
enquanto o tempo deixar
e a escola não se afundar
vou alterando o meu ego

Vou deixando as moscas pairar
vou vendo se Godot já chegou
e quando me dá na tola
dou um chuto na bola
só para me aliviar

A escola ainda não acabou
há sempre tanta matéria a estudar
que eu chego mesmo a ter medo
de em qualquer momento
já não ter lugar
para mais conhecimento

Jorge Palma, “A Escola”

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Saber pôr as culpas é uma arte pouco subtil!

culpa

De acordo com a ministra de educação, Maria de Lurdes Rodrigues,  e com o secretário de estado, Valter Lemos, a descida dos resultados no exame de Matemática tem os seguintes culpados: a comunicação social,  a Sociedade Portuguesa de Matemática e alguns “partidos e pessoas com responsabilidades políticas”. E porquê? Porque disseram que os exames eram fáceis e isso fez com que os alunos não estudassem.

Estas declarações já têm 3 dias e já foram por isso devidamente analisadas e, como merecem, criticadas e ridicularizadas.

Faltava apenas identificar a fonte inspiradora de Maria de Lurdes Rodrigues e de Valter Lemos. E aí está, descobri agora mesmo na Net: Homer Simpson, que tem  óbvias afinidades intelectuais com essas personagens da tragédia em que se tornou a Educação em Portugal.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Só isso?? E o facto das Novas Oportunidades serem uma aldrabice – não conta??

Este título é motivado por esta notícia do jornal Público:

“Demasiado tempo de espera, horários difíceis de compatibilizar com a vida pessoal e pouco impacto a nível profissional são os três maiores problemas identificados na Iniciativa Novas Oportunidades, de acordo com o primeiro estudo externo ao programa que será apresentado amanhã no Centro de Congressos de Lisboa. Contudo, para os autores, os ganhos na auto-estima dos participantes é um dos efeitos que mais compensou e que, a médio prazo, poderá revolucionar o tecido empresarial.”

E a resposta à pergunta contida no título do post é: NÃO! NÃO CONTA!

O FACTO DE QUASE TODOS OS PROFESSORES QUE LECCIONAM AS NOVAS OPORTUNIDADES DIZEREM QUE AQUILO É UMA ALDRABICE NÃO CONTA!

O que conta é a opinião de Roberto Carneiro, que foi o primeiro Ministro da Educação a ceder ao “eduquês” e a dar carta branca aos supostos “especialistas” das “Ciências” da Educação.

Mas, que este governo minta e deturpe os resultados, não surpreende – é o que tem feito em relação a todos os aspectos da política educativa! O que surpreende é o silêncio dos professores que têm leccionado aulas nas Novas Oportunidades.

Há muitos meses que ouço queixas desses professores. Se vivemos numa sociedade realmente democrática, porque é que essa queixas não são públicas?

Falta de espírito? Medo?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Horas extraordinárias não remuneradas


Em tempo de balanços e relatórios, deixo aqui o registo de algumas das tarefas que realizei como directora de turma. (Para contextualizar: sou professora do ensino secundário e leccionei aulas a cinco turmas e dois níveis diferentes.)

Passei dezenas de horas a ler legislação, por vezes alterando regras que tinham entrado em vigor poucos meses antes. Passei dezenas de horas a analisar inquéritos com dados pessoais inúteis acerca dos alunos e depois a preencher formulários também inúteis com as supostas conclusões inferidas desses dados. Recebi 30 Encarregados de Educação na hora de atendimento. Efectuei cerca de 20 telefonemas. Enviei 37 cartas. Realizei 3 reuniões com os Encarregados de Educação (depois das 18.30). Organizei e realizei uma visita de estudo. Presidi a 7 reuniões do Conselho de Turma. E, já me ia esquecendo, andei diversas vezes atrás de alunos e de colegas por causa de medidas correctivas e provas de recuperação.

Para desempenhar estas tarefas tinha no meu horário um bloco semanal de 90 minutos. Seria suficiente?

Claro que não. Fiz aquilo que muitos professores actualmente são obrigados a fazer se quiserem cumprir as obrigações inerentes às suas funções: horas extraordinárias não remuneradas.

Será por mera preguiça que tantos professores experientes, mas ainda a anos de atingirem a idade da reforma, optaram por se reformar antecipadamente? Ou esse fenómeno terá algo a ver com as condições de trabalho que são dadas aos professores?


Populismo e desonestidade intelectual do ME

De acordo com os responsáveis do Ministério da Educação, os resultados no exame nacional de Matemática A pioraram em relação ao ano passado devido a este extraordinário motivo: o facto de se ter dito publicamente que os exames dos anos anteriores foram demasiado fáceis levou os alunos a estudarem menos.

Estas declarações, além de fazerem tábua rasa do facto de instituições e especialistas idóneos terem mostrado por A + B que os exames eram realmente demasiado fáceis (não se tratando portanto de uma opinião subjectiva e politicamente motivada), mostram o que a Ministra da Educação e os seus Secretários de Estados pensam acerca dos alunos: uns pobres coitados manipuláveis e pouco capazes de utilizar a cabeça!

Leia a notícia no jornal Público. Vale a pena mesmo a pena ler, embora possa levar a uma dúvida perturbante: será que a Ministra da Educação e os seus Secretários de Estados vivem no mesmo país que nós?

«A média do exame nacional de Matemática A, 12.º ano, desceu de 12,5 para 10 valores, tendo mais do que duplicado a taxa de reprovação à disciplina, segundo dados do Ministério da Educação hoje divulgados. Entre 2006 e 2008, a média nesta prova tinha subido de 7,3 para 12,5 valores, enquanto a média dos alunos internos melhorou em igual período de 8,1 para 14 e a percentagem de reprovação caiu de 29 para sete por cento.

Para a tutela, este resultado traduz “menos investimento, menos trabalho e menos estudo” do lado dos alunos, na sequência da “difusão da ideia que os exames eram fáceis” por parte da comunicação social.»

domingo, 5 de julho de 2009

Quem gosta de ler é certamente maluco!

Há dias observei na praia de Faro um grupo de adolescentes: rapazes e raparigas, todos manifestamente amigos. Depois de umas braçadas, uma das raparigas tirou da mochila um livro e começou a lê-lo. Um dos rapazes disse-lhe admirado: “Ainda a estudar? Pensava que tinhas feito os exames todos na 1ª fase”. A rapariga sorriu e respondeu: “Não estou a estudar. É um romance, olha… chama-se ‘O Fim do Sr. Y’ e é muito interessante!” O rapaz virou-se para os outros e exclamou: “Malta, a Yolanda não está boa da cabeça! Está a ler um livro na praia e ainda por cima está a gostar!”

Nota: não sei se o livro é bom ou mau, pois não o li.

Publiquei um post igual no blogue Dúvida Metódica.

sábado, 4 de julho de 2009

O estado da educação

No discurso sobre o estado da nação, o senhor deputado Afonso Candal traçou um quadro sobre o estado da educação, em que parece que estamos no melhor dos mundos possíveis. Assim, segundo o eminente deputado, os alunos hoje aprendem muito mais nas escolas, os resultados obtidos nas provas de aferição são a prova disso mesmo. Aquilo que este ministério da educação tem feito de forma hábil é transmitir para a opinião pública uma imagem da situação do ensino que não corresponde à realidade, ou seja, aquilo que o ministério transmite para a opinião pública está a anos luz daquilo que é a verdadeira realidade. Por exemplo, nas turmas de C. E. F., a grande maioria dos alunos aparecia nas aulas sem qualquer material. Não traziam sequer um simples caderno ou uma simples caneta. Mesmo nos momentos de avaliação os alunos não traziam qualquer material. O que fazer com estes alunos visto que o sistema não permite a exclusão dos mesmos? É óbvio que estes alunos não estão na escola para aprender, o que fazem, com frequência, é ameaçar alunos e professores e envolver-se em cenas de pancadaria. Agora, eu pergunto: Será que os pais, durante o ano lectivo, não se aperceberam que os seus filhos íam para a escola sem qualquer material? Durante o ano lectivo, em várias reuniões esta situação foi abordada. Os professores alertaram os encarregados de educação da situação, mas esta situação não só não foi corrigida como até se foi degradando. O que podemos fazer para alterar este estado de coisas?

F. Pinheiro

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Falta de ambiente

Ontem falei com três colegas (de escolas diferentes) que têm turmas dos Cursos Profissionais. Estão agora a dar as últimas aulas. Queixam-se que os alunos já não os ouvem, que vão às aulas de má vontade e que – como dizia o outro – o difícil é sentá-los. “Nem filmes querem ver, quanto mais ler e estudar! Entram na aula a perguntar se não podem sair mais cedo...”

E, embora não houvesse ninguém por perto, baixaram a voz para dizer: “Mas há colegas que ainda estão pior! Já nem aulas dão… deixam os alunos jogar computador e brincar com o telemóvel…Não conseguem controlá-los, percebes?” Depois de uma pausa a explicação: “Com o calor, com a escola deserta… já não há ambiente para dar aulas!”

É manifesto que não bastam o calor e os corredores desertos para explicar essa falta de “ambiente”. É preciso considerar também a crescente falta de autoridade dos professores e o modo absurdo como os Cursos Profissionais foram organizados. Voltarei ao assunto.

Já que tem a mão na massa…

“O primeiro-ministro, José Sócrates, aceitou hoje a demissão do ministro da Economia, Manuel Pinho, na sequência do incidente na Assembleia da República, durante o debate do estado da Nação.”

marialurdesministra educaçãoE se o primeiro-ministro aproveitasse a oportunidade para nos livrar desta senhora? Afinal, as lamentáveis piruetas de Manuel Pinho são pouca coisa com o que ela tem feito aos professores…

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os bons exemplos dados pelo governo…

ministro mal educadoNo jornal Público pode ler-se que no debate do estado da Nação de hoje (02-07-2009)  “o ministro da Economia, Manuel Pinho, fez um gesto, colocando os dedos indicadores na testa, a imitar chifres, dirigindo-se a Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP”.

Palavras para quê… Só há uma coisa a dizer e outra a fazer: pedir desculpa e pedir a demissão.

Mas não falou dos exames…

Como se pode ler no jornal Público:

“A presidente do PSD prometeu hoje mudar os estatutos do aluno e da carreira docente, o sistema de avaliação dos professores e aliviar a carga burocrática a que estão sujeitos, caso vença as eleições legislativas.”

Manuela Ferreira Leite tem naturalmente razão: trata-se de aspectos que têm de ser mudados.

Mas se não começarem a existir mais exames nacionais e se estes não forem elaborados com mais exigência e rigor as outras mudanças serão insuficientes para melhorar a educação em Portugal – tanto o que se ensina como o que se aprende!