domingo, 17 de julho de 2011

Contra o Eduquês

"Ficámos também a saber , analisando os resultados médios por idade, que a 'repetência' não contribui para melhorar o desempenho dos alunos."
Ana Benavente, Público, 28 de Dezembro de 2000

A ideia de que a repetência é nociva para os alunos e para a educação foi uma ideia que se enraizou, progressivamente, no ministério da educação, após o 25 de Abril. A análise da documentação que os defensores do eduquês foram produzindo, desde o 25 de Abril, foi sempre no sentido de condenar a reprovação dos alunos. Os argumentos aduzidos foram variados. Para alguns, a reprovação dos alunos era perniciosa, pois contribuía para a degradação da sua auto-estima. Nas alguns casos, poderia contribuir para a formação de pessoas pouco equilibradas em termos emocionais. Outros afrirmavam que as reprovações eram sobretudo penalizadoras para as classes mais desfavorecidas. Escudados em pressupostos desta natureza, os ideólogos do ministério da educação foram criando legislação para dificultar as reprovações. Daí que, actualmente, é muito mais fácil passar um aluno sem saber nada do que reprová-lo.

No ensino básico a reprovação dos alunos torna-se ainda mais difícil. Se o aluno tem dificuldades, então, adapta-se o currículo de modo a que ele consiga passar de ano. Adaptar o currículo é uma forma eufemística de dizer exija-se menos do aluno. Por exemplo, se o aluno não consegue contar até 200, então, elabora-se um plano de recuperação em que o aluno apenas precise de contar até 10. Assim, os alunos foram interiorizando a ideia de que iriam passar de ano sem terem que fazer grande esforço. Esta cultura de facilitismo é a principal responsável pelos baixos resultados conseguidos pelos alunos nos exames nacionais.

A ideia de que as reprovações não servem para melhorar o desempenho dos alunos nem sempre é verdadeira. Há alunos que após terem reprovado melhoraram claramente o seu desempenho, desta forma, para alguns as reprovações são benéficas, pois, despertam os alunos para a necessidade de estudar se querem passar de ano. Por outro lado, nas disciplinas em que as aprendizagens são sequenciais como acontece, por exemplo, na matemática, transitar de ano sem dominar as matérias leccionadas durante vários anos irá ter consequências devastadoras, pois, a dada altura serão incapazes de superar as lacunas acumuladas. Esta escola facilitista pretensamente defensora das classes mais desfavorecidas tem contribuído para acentuar as desigualdades sociais em vez de as corrigir. As crianças e os jovens oriundos das famílias desfavorecidas são as principais vítimas da escola inclusiva que convive mal com a cultura da exigência e da responsabilidade.

F. Pinheiro



Sem comentários:

Enviar um comentário